
O meu mês de Setembro começou com uma mudança. Mudança essa que há muito, mas muito, andava a ser cozinhada em banho-maria – o blog Slow Living Portugal centralizou-se no seu canto (www.slowlivingportugal.pt) e assumiu perante o mundo que as redes sociais não são a sua praia. I.e., eu (já) não sou pessoa das redes.
Enquanto que meio mundo despertou na reentré e toda (vá, muita) gente anda histérica nas redes com o regresso ao trabalho, e novo conteúdo, e novos cursos, e novo calendário de mentoria, e novidades nos seus catálogos, e por aí adiante…há outro meio mundo que está ressacar o verão com um certo ódio ao otimismo dominante das redes neste mês de recomeços.
No entanto, continuamos em modo incógnito, atrás da cortina, a consumir este conteúdo social sem que ninguém nos veja. E porquê? Vamos lá aos bitaites da semana!
O que é Posting Ennui? | Sobre a fadiga digital

Ennui é uma expressão francesa que define a sensação combinada de cansaço e aborrecimento. Uma espécie de vazio interior. E recentemente podemos ler mais vezes, por aí, a expressão “Posting Ennui” pois já há uma tendência marcada ao ponto de ser contabilizada em estatísticas*. E está a acontecer uma sensação ennui relativamente à publicação de conteúdo nas redes por utilizadores particulares. Não são as marcas, os influencers, os bloggers e os empreendedores que estão a publicar menos. Esses têm cada vez mais espaço. E têm-no porque os feeds estão a ser esvaziados de publicações mundanas da vida pessoal.
A malta “civil”, que em última análise se define por não vender na internet, não está a publicar. E deve-se sobretudo a um pensamento que se divide em fadiga digital e “porque é que vou publicar uma foto da minha vida pessoal?”. Aparentemente, a malta millenial está a quebrar com as tendências das selfies e fotos do pequeno almoço que há 10 anos explorou à exaustão.
E isto até tem o seu quê de esperançoso, porque esta malta entra agora nos seus 30/40 anos com inícios de família e, em geral, numa postura mais “adulta e responsável” nesta fase da sua vida – e parece-me que estes adultos chegaram à conclusão que a vida vai muito mais além do que as aparências das fotos e dos filtros.
Por outro lado temos, uma geração como os Z’s que na sua maioria assumem este distanciamento digital e que têm ainda mais presente a noção de detox digital. Noção e necessidade. Mais facilmente comunicam por DM ou por Whatsapp.
Num outro espetro completamente oposto, hoje vemos adolescentes e jovens adultos (muito jovens) a emanciparem, sem critério, o seu debut digital – acrescentando ao seu leque de possíveis saídas profissionais o cargo de “Influencer” (nem vou comentar!).
🚨FOMO FOMO FOMO FOMO🚨
“Se eu sair do Instagram, não vou saber dos meus amigos.”
“Se apagar o Facebook, fico a viver numa caverna.”
Este é o truque das redes: fazem-nos acreditar que estamos sempre a perder o acontecimento do século — quando, na verdade, é só mais um escândalo de 48 horas. O cérebro grita “Não podes falhar isto!”. Mas a realidade? Passados três dias já ninguém se lembra.
No fundo, não é medo de perder informação. É medo de admitir que a maior parte dessa informação não nos serve para nada.
O digital pode ser slow e vice-versa

A ideia de que ser slow significa desligar-se totalmente da tecnologia, abandonar tudo e ir viver para o campo sem wi-fi, é imaginário dos românticos. Isso não existe. No máximo existe no mundo dos que não usam internet – e esses são desconhecidos porque não estão na internet; talvez tenham um documento de identificação civil, mas é só isso.
Aqui não recuso a tecnologia (e como poderia?) e acrescento até, em meio modo de desafio, que sou uma entusiasta de IA. Mas reitero, que ser slow não implica uma recusa à tecnologia, implica sim uma consciencialização sobre o seu uso – como em tudo nada vida. (O problema de qualquer veneno está na sua dosagem.)
Defendo imensamente a nossa liberdade para escolher consumir; recuso a insinuação das redes sociais para nos manter “ligados”. Isso é o que quero rasgar: a cláusula a letras pequenas do vício do scroll. Porque os algoritmos merecem um nobel pela sua capacidade sofisticada de nos manterem agarrados à merda das aplicações!
Revivalismos Digitais

Nesta era da informação à velocidade do clique, parece que surge uma espécie de revivalismo digital. O que há uns 15 anos parecia uma disruptiva revolução tecnológica, hoje está a ser reavaliada como uma alternativa aos algoritmos ditadores. Em boa verdade, formatos como newsletter e blog estão a voltar às miras das empresas como estratégias mais sólidas de conversão e retenção de clientes.
Portanto, parece que andamos a reposicionar as tendências na cronologia e a criar anacronismos tecnológicos. E, sendo sincera, acho ótimo olharmos para a era dos 2010’s como uma inspiração de tempos mais slow. Engraçado como os tempos mudam! E quem diria que no meio de tanto blogger de Slow Living que evoca os valores do orgânico, do homestead, do farm living e cottage core, andaria eu a falar das newsletters e dos blogs como “bons tempos, meu caro, bons tempos!”.
A nova experiência Slow Living Portugal

A semana passada publiquei um post no instagram a comunicar o shift que o blog havia sofrido. Expliquei sucintamente a minha dermatite de redes sociais e que o meu conteúdo estaria centralizado no website, com a ajuda da disseminação semanal dos artigos pelo Substack, e com a novidade que implementei neste mês – o Jornal Slow Living. E na dúzia de interações (poucas mas muito amadas) que recebi, todas elas me trouxeram desabafos de boas almas que sentem esta fadiga digital nas redes.
O Jornal Slow Living é o meu revivalismo digital: é um espaço onde concentrei a parte mais fofa, criativa e, simultaneamente, prática dos valores slow. Até agora, este tipo de conteúdo estava a ser disponibilizado no Instagram sob a forma de carrosséis informativos de Canva (que todos nós conhecemos; alguns adoram, outros repudiam). Dessa forma, em modo de ardina dos anos 2020’s, quis entregar este conteúdo de uma forma mais intimista a quem queira encontrar o escape slow que o inspire.
E esse escape, cai na tua caixa de entrada, para abrires o email quando, como e com quem te apetecer, sem ditaduras algorítmicas nem o infame ruído digital.
Subscrição Mensal Gratuita do Jornal Slow Living: https://www.slowlivingportugal.pt/subscricao-newsletter/
Obrigada por estares desse lado,
Sara – Slow Living Portugal
* fontes
- https://pro.morningconsult.com/analysis/who-is-posting-on-social-media-2025
- https://www.bbc.com/worklife/article/20250722-social-media-user-changes-kyle-chayka-katty-kay-interview
- https://www.newyorker.com/culture/infinite-scroll/are-you-experiencing-posting-ennui





