O que é isto de Cansaço Digital?
Tenho dado por mim a abrir um instagram ou um facebook, passar 5/10min no scroll e a sentir o cérebro a definhar. Não sei se FINALMENTE o meu corpo está a entrar em fadiga digital – Deus queira!
“Sara, hã…como é que te digo isto? Tu tens um blog, certo? Tu vives das redes sociais, certo?”
Pois…a verdade é que não vivo das redes sociais e, não, isto não é uma manobra paradoxal de (continuar a) chamar seguidores para o meu conteúdo. Estou a usar o meu blog como uma espécie de diário documental da minha jornada slow – como sempre usei. Não escondendo, em momento algum, um certo fascínio pelo potencial rendimento que qualquer expressão digital hoje em dia tem. Embora até agora tenha ganho 0,35€ em google adsense – *palmas tristes*
O que trago hoje para o prato slow do dia é o cansaço do ruído digital – notificações, opiniões, notícias, vendas disfarçadas de consciência, distrações com glitter de produtividade, postais de inspiração e motivação.
Vivemos imersos num ruído online constante, e não sei quanto a ti, mas isso está a mexer com o meu bem-estar.
E sim, sei que pode parecer contraditório (mais uma vez): foi no Instagram do Slow Living Portugal que conheci pessoas incríveis, incluindo uma nova amizade que hoje faz parte da minha vida real. As redes sociais têm o seu valor. Elas conectam, elas ajudam. Mas ao mesmo tempo, consumem-nos — devagar e silenciosamente.
Redes sociais ou redes comerciais: mais performance disfarçada de humanismo
Há algo estranho a acontecer: nunca estivemos tão conectados, e ainda assim, tão polarizados. As plataformas que surgiram com a premissa de nos aproximar, hoje alimentam discussões intermináveis, criam bolhas ideológicas e fazem do algoritmo o novo oráculo da verdade. Lembras-te do “Connecting people” e as mãos dadas na Nokia? Pois, hoje é mais “putting people together to disconect”.
E por trás de cada partilha, há uma pergunta que ninguém quer admitir: “Quantos gostos vou ter?” Nem podemos mais chamar-lhe de partilha – é uma mostra. Um corredor de kms de feed de leilões virtuais de corações e balõezinhos de comentários à espera da interação – do aclamado engagement.
Algures nestes kms substituímos entretenimento por performance.
A partilha genuína virou estratégia.
Até a dor tornou-se um copy otimizado. Desculpa, alguém filmar o seu processo de luto de um aborto espontâneo enquanto ainda está no hospital, é só perverso. Diria até doente.
Ansiedade digital e o cérebro em modo notificação
*Pling* *Bleep bleep* *Tuh-tuh*
Olha ali uma bolinha vermelha com um dígito lá dentro! “Vou só dar uma vista de olhos.” “Chegou alguma coisa no email?” “Quantas views é que o meu reel já tem?” “Tenho mensagens por ler no whatsapp.”
Há um ímpeto praticamente impossível de resistir: notificações. É uma injeção de adrenalina que nos pede para ir ver o que se passa. E estes constantes alertas mexem com o meu foco para outras situações do dia-a-dia. No emprego, em casa, em eventos…
A cada vez que abro uma app, sou atropelada por uma avalanche de informações, urgências e ruídos. E quando fecho, sobra apenas a sensação de que não fiz absolutamente nada de positivo. Só consumi.
Consumi… e fui consumida.
O nome disso pode ser cansaço digital, media fatigue ou brain rot. Na melhor das hipóteses, simples excesso.
Silenciar para ouvir: o desejo de comunicar de outra forma
É por isso que estou a reavaliar a forma como quero comunicar.
Nos próximos tempos, quero privilegiar canais mais silenciosos e realmente meus: este blog, uma newsletter através do meu website, quem sabe até em formato áudio. E gostava de ter a coragem de quebrar as guilhotinas dos formatos e abandonar as redes.
Até o Substack, que eu considerava ser uma plataforma “à parte”, começou a ceder ao formato rápido dos notes. “Mais um feed?” Pessoalmente, preciso de menos feed, menos polarização, menos falácias, menos insultos e menos palavras chavão.
Menos ruído. Mais vida.
O Slow Living não é uma estética. É um conjunto de valores. E, se seguires este blog ou qualquer outro canal, não for saudável para ti, (se me permitires o conselho não solicitado): desliga. Eu também estou a aprender a fazer isso.
Acredito que podemos continuar a comunicar em rede. Mas o paradigma terá que mudar. E já está a mudar. Os algoritmos para 2025 mudaram face à tendência de abandono das redes sociais e queda acentuada no número de publicações por utilizador. Ler aqui
Porque entre o volume alto das redes e o silêncio do que realmente importa,
eu escolho escutar. Ou quero escutar.
E para dar o exemplo, vou partilhar contigo o que escolhi fazer no feriado de 10 junho. Porque seria mais fácil ter perdido 2horas a fazer scroll no feed. Mas decidi (finalmente) dar início a um pequeno projeto com algum tempo em “proposta” mental”. Fiz um cantinho com sementeiras que fiz no final de maio.
Olha que riqueza! 😍 Olha o antes e depois! 😁

Convido-te a partilhar comigo algo que muitos irão ver como pequeno, mas que foi algo importante para ti. E podes fazê-lo por email, nos comentários, em mensagem privada, ou até mesmo pelas redes sociais. Acredito que podemos voltar à partilha de pequenos momentos de vida. Sempre que partilhar este tipo de coisas vou colocar a etiqueta #offsocial.
“Sara, não acabaste de contradizer tudo o que escreveste até agora?” – acho que não. Acredito que pode existir um equilíbrio.
Não estou a sair das redes. Mas estou a sair da dependência delas.
Quero publicar menos. Ver menos. Esperar menos.
E viver mais.
Continuarei a aparecer, sim — mas só quando tiver algo com substância para te dizer.
Porque partilhar por partilhar já não alimenta ninguém. Pelo contrário: seca.
Se tu também estás a sentir este esgotamento silencioso, talvez possamos experimentar juntos outras formas de presença.
Até lá, estou aqui — a cuidar das plantas, a escrever, a ouvir. Devagar, como sempre quis que fosse.
Obrigada por estares desse lado,
Sara – Slow Living Portugal.