
Geralmente, agosto é sinónimo de malas feitas, rotundas a caminho do Algarve e aquela clássica fila na bomba de gasolina às seis da manhã.
Para outros — e talvez sejas tu — agosto é… ficar. Ficar na cidade. Ficar por casa. Ficar onde a maioria saiu.
E sabes que mais? Isso pode ser uma bênção.
A cidade fica em modo slow
Tirando os centros turísticos, que se inundam de correntezas de turistas e nativos desafogados, a urbe torna-se (a meu ver) um mundo encantado de ruas lentas e silenciosas, que caem que nem uma luva na estética de verão. E que beleza é a luz de fim de dia bater no alcatrão e observar um carro ou outro que passa devagarinho a devolver reflexos dourados!
Mas ainda que consideremos os centros históricos e turísticos, estes ainda demoram para acordar. Conduzir numa cidade do Porto, às 08.40h da manhã em Agosto é como passar manteiga no pão quente: até dá ânimo ao trabalho preguiçoso que nos espera no escritório.
O trabalho… até parece menos trabalho
Se estás a trabalhar neste mês, há algo que muda subtilmente:
A pressão acalmou. A caixa de entrada está menos ansiosa. As reuniões? Reagendadas para setembro. Os colegas revezam-se nas suas férias e quem fica encosta-se na cadeira, com um café na mão, a ver a malta desejosa por ir e em lamento por voltar. É um pouco sórdido, mas tem o seu quê de entretenimento.
Agosto no trabalho tem uma energia de “ficar a cuidar da casa”, quase como uma vigilância tranquila. Não é tranquilo para todos, pois está claro, mas em geral as empresas estão em modo Eco.
Pessoalmente, não me importo nada de trabalhar em agosto:
- Menos “urgências”
- Menos pessoas
- Menos barulho
Slow commuting: chegar sem stress
Agosto é o único mês do ano em que a cidade parece respirar. Se normalmente demoro uns 35/40min ao emprego, à volta de agosto demoro 17min. É fenomenal! De repente, o calor deve ser tal que se evaporam os carros. Até os semáforos parecem colaborar!
Há quem vá à praia, mas tu vais para o escritório em 12 minutos. Sem filas, sem viagens de pé, sem pressas, sem GPS a gritar por desvios. O caminho de casa para o trabalho transforma-se: é mais curto, mais silencioso, mais… teu.
E quem nunca disse o seguinte na vida, nunca viveu na urbe: “Podia ser agosto o ano inteiro! Consegui estacionar mesmo à porta da empresa!”? E de repente, o teu dia tornou-se mais amistoso e leve…
Ficaste na cidade…e ficaste muito bem!
Não estás a ver o mar todos os dias, nem a postar fotografias com legendas tropicais.
Mas também não estás numa fila de 4km para comprar um corneto, nem 40min à espera para entrar num monumento.
Estás a viver num tempo entre parêntesis — aquele raro momento do ano em que a cidade abranda e te convida a ires com ela.
Talvez chegues a casa com mais energia e talvez irás a uma esplanada à noite, depois do jantar. Talvez adormeces melhor com a calmaria da tua rua (ou talvez não, porque estão 29ºC às 22.30h). Mas talvez acordes com mais tranquilidade e te sintas uma personagem de novela brasileira com tempo para tomar o pequeno almoço que chega 10min antes do expediente.
Agosto é um convite.
É a oportunidade para viver a cidade como ela raramente se apresenta: sem barulho, sem pressas, sem caos. E porque não tens férias neste mês, ou ainda irás no final do mesmo, este é o lugar e o momento para descomprimir.
Um lembrete de que desacelerar não depende de onde te estás, mas do ritmo em que te encontras.
Por isso, se “ficaste por terra”, lembra-te que ficaste numa cidade mais tranquila, e uma versão tua mais presente.
E se alguém te perguntar “Mas não foste para lado nenhum em agosto?!”, responde tranquilamente: “Fiquei por aqui. Fiquei, simplesmente…”
Obrigada por estares desse lado,
Sara – Slow Living Portugal